sábado, 24 de abril de 2010

O problema do 3D

'O que está a passar em 3D?', foi a questão que ouvi uns dias atrás na entrada dum cinema, substituindo a vulgar 'Quais são os filmes em exibição?'. E esta simples questão confirma que o espectador de cinema comum está a começar a ficar mal habituado com esta nova moda de filmes 3D.

A tecnologia 3D está cada vez mais popular e Hollywood está a apostar ainda mais no formato (ainda hoje foi anunciado o adiamento de The Green Hornet para 2011 para que fosse convertido e foi oficializada a conversão de The Last Airbender, de M. Night Shyamalan), criando assim um mau hábito nos espectadores de que tudo o que for apresentado em 3D deve ser visto em detrimento de obras (muitas vezes de superior qualidade) que são apresentadas em 35mm (ou projecção digital). E isto começa a ser um mau sinal. Há casos em que as pessoas sabem que um filme é mediano ou simplesmente mau mas gastam o seu dinheiro pois é em 3D e querem ver os efeitos, algo que acaba por não fazer sentido (mas já vi acontecer com Alice in Wonderland em que a pessoa em questão tinha sido informada que o filme não era muito bom e queria ver à mesma apenas por ser em 3D).
Neste momento, os filmes em 3D são a galinha dos ovos de ouro dos estúdios e das distribuidoras, com o custo adicional que vem com cada bilhete (prática utilizada em todo o mundo) e, portanto, é normal que as apostas sejam cada vez mais. No entanto, nem sempre se justifica um filme estar em 3D. Neste momento, temos nas nossas salas um caso evidente: Clash of the Titans.

O filme de Louis Leterrier foi filmado como todos os outros e nem sequer foi pensado para 3D. Devido ao gigantesco êxito de Avatar (filme que foi filmado na nova tecnologia e teve um uso brilhante do 3D), a Warner decidiu, à última da hora, adiar o filme uma semana (para que a sua estreia nos Estados Unidos não colidisse com a de How to Train Your Dragon, também em 3D) e convertê-lo para 3D. O resultado final é triste e ofensivo para o espectador, onde o filme está quase todo em 2D (com as legendas em 3D) e as cenas de acção ficam com uma qualidade ridícula, onde não se percebe quase nada, devido à má conversão. É evidente que a Warner não acreditava muito no sucesso do filme e, convertendo em 3D, o filme conseguiria assim ser um êxito de bilheteira. E a técnica, infelizmente, resultou, apesar de haver inúmeras pessoas, pela net fora, a criticar a conversão(para não falar da qualidade do filme).
Clash of the Titans é um exemplo claro do pior que se pode fazer com a tecnologia: o estúdio não acredita no filme e decide converter, ficando com os bilhetes de cinema mais caros e obtendo assim o lucro desejado. E o enganado é o espectador que, estando na moda do 3D, dá especial atenção aos filmes projectados desta forma (temos um exemplo claro em Avatar, em que pessoas preferem não ver o filme sequer, já que não o podem ver em 3D, dando assim mote a outro assunto: o 3D melhora a qualidade dum filme?)
A resposta é um claro e óbvio NÃO. A tecnologia 3D é apenas um complemento para ajudar a contar a história do filme. Se é bem utilizado em certos casos? É certo que sim (Avatar utiliza o 3D de forma imersiva para que o espectador possa sentir-se mais próximo de Pandora, planeta criado por James Cameron, e mesmo How to Train Your Dragon tem um bom uso da tecnologia, com sequências aéreas bem obtidas). Mas nem todos os filmes precisam de 3D (como, por exemplo, Clash of Titans). No entanto, o público vê tudo o que há em 3D apenas porque... está em 3D! Se o mesmo filme não estiver em 3D, já não querem ver, com a ideia que determinado filme só merece ser visto dessa forma. Esquecem-se do pormenor importante: o que torna um filme num bom filme é a história, a forma como o mesmo é executado, interpretado, etc.. O 3D é, como já disse, um complemento que só deve ser utilizado quando realmente há um bom motivo para tal (tirando o de fazer mais dinheiro nas bilheteiras, com a rápida conversão).

A última questão deste assunto complicado do 3D tem a ver com a já referida conversão de filmes: o próprio James Cameron já criticou Hollywood por estar a utilizar a tecnologia de forma errada, indicando que são os realizadores que têm de querer filmar em 3D e não os estúdios que têm de querer converter um filme para 3D. Michael Bay teve o melhor momento da sua carreira ao dizer que já não quer que Transformers 3 (estreia em Julho de 2011) seja em 3D pois teria de filmar normalmente e depois converter. Bay diz ainda que, neste momento, a conversão dum filme para 3D é de má qualidade (e tem razão. Não é querer bater no ceguinho mas Clash of Titans é mesmo ofensivo). Até já estão a surgir trailers que começam a diferenciar estas duas formas (temos o exemplo do Teaser de Resident Evil Afterlife, que diz mesmo que é filmado em 3D).
Filmar em 3D é mais dispendioso para os estúdios e a conversão em pós-produção é um método mais barato e simples. E, enquanto que algumas (poucas) super-produções vão ser filmadas em 3D, os filmes com orçamento mais baixo é que poderão marcar a diferença: orçamento menor significa que poderão usar um pouco mais para filmar com a nova tecnologia, apresentando um 3D de melhor qualidade ao espectador, tornando evidente a diferença de qualidade entre filmado e convertido.
O 3D poderá ser uma nova forma de ver cinema, onde proporciona uma experiência diferente ao espectador. E é, afinal de contas, uma nova forma de combater a pirataria. No entanto, com o surgimento dos televisores 3D, as receitas vão começar a ser menores e, eventualmente, começará a ser algo vulgar. No entanto, para bem ou para mal, o 3D está aqui para ficar por mais uns bons tempos. Só é pena que o público esteja mal informado e mal habituado, querendo só ver neste novo formato e deixando os filmes projectados normalmente de parte.

Podem deixar os vossos comentários em baixo, se assim o desejarem.

2 comentários:

Anónimo disse...

O problema não é o 3D em si (embora não seja grande adepto, bem pelo contrário) é como dizes, e bem, a mudança de mentalidades do publico casual. E com essa nova mentalidade vem mais dinheiro para as distribuidoras, e com mais dinheiro vem mais 3D e com mais 3D mais lixo.

Espero que esta moda do 3D passe rapidamente... mas o 3D está-se a tornar no novo santo graal, todos desde fabricantes de TV até à industria dos videojogos estão a entrar neste novo comboio de fazer dinheiro :(

Roberto Simões disse...

Magnífica dissertação, parabéns Hélder! ;)

O 3D é importante para revitalizar os estúdios financeiramente. Os espectadores consomem, por agora, o que querem. Como sempre, há público para a diversão e público para a arte. Cada um deve escolher ao que vai e enquanto houver opção de escolha, tudo óptimo.

Até hoje, não vi nenhum 3D que tivesse repercussões artísticas maiores - nem mesmo AVATAR. É só uma forma de entretenimento.

Pessoalmente, o 3D não me diz nada, artisticamente falando. Em termos de entretenimento, atordoa-me a cabeça ;D Bastante, até.

Cumps.
Roberto Simões
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