Com o passar das décadas, alguns super-heróis tornaram-se parte da cultura popular: quem não sabe quem é o Super-Homem e qual a sua origem?; Quem não reconhece logo o simbolo do morcego com o fundo amarelo?; Quem não conhece Homem-Aranha?
Com o fenómeno dos super-heróis a tornar-se cada vez maior, a vontade dos estúdios de pegar nestas personagens tornou-se maior também, utilizando qualquer meio que fosse. Na década de 50, George Reeves (recentemente interpretado por Ben Affleck em Hollywoodland, devido ao seu misterioso suicídio) tornou-se numa super estrela da televisão devido à série de Super-Homem, a preto e branco (e mais tarde a côres). Isto confirmou que o único sobrevivente de Krypton era a personagem mais famosa dos comics na altura (nesta altura, a Marvel ainda não existia, apenas a DC Comics, se falarmos dos dois grandes). Capitão América, personagem criada nos anos 40 devido ao tempo de guerra, tinha tido grande êxito durante tais tempos dificeis mas, quando a guerra acabou e o mundo entrou na década de 50 e na Guerra Fria, as vendas desceram a pique e a sua revista foi cancelada. O heróis, no entanto, iria ressurgir brevemente.
Os anos 60 foram os anos que mudaram os comics e o universo dos super-heróis para sempre. Enquanto a DC Comics publicava histórias dos seus heróis de acordo com os pensamentos e os medos da época (por exemplo, Batman e Robin já combatiam extra-terrestres e criaturas dignas dum bom filme série B da década), e enquanto uma das suas personagens principais descia rapidamente de qualidade (Batman), surgiu a Marvel. Acabando por ser a grande rival da DC Comics, a Marvel chegou com um arsenal de super-heróis que, de imediato, chamaram a atenção do público (devido ao facto deste poder identificar-se com muitas personagens e porque muitos destes heróis tinham sempre alguma ligação com temas actuais: ameaça nuclear, racismo, etc.) e tornaram-se em êxitos estrondosos de vendas: Homem-Aranha, X-Men, Quarteto Fantástico, Hulk, etc.. E a Marvel conseguiu ainda, através da revista Os Vingadores (um grupo de super-heróis), ressuscitar Capitão América, tornando-se agora parte do grupo e ganhando uma revista sua. O êxito foi tal que, ainda na mesma década, a Marvel produziu uma série de animações bem sucedidas sobre os seus heróis (Hulk, Quarteto Fantástico, Homem de Ferro e Thor são alguns dos exemplos). Estas animações eram simples: pegavam nas bandas desenhadas e colocavam algumas animações, dando assim vida ao que se via nos quadradinhos. A animação mais elaborada da Marvel foi mesmo Homem-Aranha, com uma produção diferente (em vez de pegarem nas bandas-desenhadas, a animação, neste caso, era mesmo produzida), já que era a personagem mais famosa. O tema principal tornou-se um clássico (quem não o conhece, pode ouvi-lo no final dos créditos do primeiro filme de Homem-Aranha) e a série tornou-se umas das primeiras do género.
No entanto, a DC combateu, criando um grupo de excelentes (e superiores) animações de Batman, Super-Homem, Superboy, Superdog, Aquaman, Lanterna Verde, etc.. A DC ainda apresentou ao mundo a mitíca série de Batman, com Adam West (que também dava voz à personagem na série de animação), série essa totalmente 'campy' e cómica. Um verdadeiro produto dos anos 60 e algo que deixaria imenso fãs da personagem descontentes.
No final desta década e no início dos anos 80, a Marvel lançou O Incrível Hulk, uma série de televisão com Bill Bixby no papel dum Bruce Banner em fuga, desesperado para encontrar uma forma de se ver livre do ser dentro dele: Hulk (interpretado pelo culturista Lou Ferrigno). A série, muita vezes vista como uma nova versão de O Fugitivo, foi um enorme êxito de audiências e durou quatro temporadas (disponíveis em DVD em Portugal). Deu origem a dois telefilmes no final da década de 80, com os protagonistas a regressarem.
Bill Bixby e Lou Ferrigno
No entanto, o passo mais importante foi dado pela DC Comics em 1978. Enquanto a Marvel levou a sua personagem mais famosa à televisão, a DC levou o seu super-herói mais adorado ao cinema. Juntamente com a Warner Bros., a DC fez algo inédito até à altura: uma super-produção, com um elenco de luxo (era invulgar haver nomes grandes como Gene Hackman e Marlon Brando num filmes destes) e com os efeitos especiais mais avanços. Pegou-se em Richard Donner (acabado de sair dum êxito comercial e de critíca com The Omen - O génio do mal) para realizar e em Mario Puzo (o autor de O Padrinho) para escrever o argumento. O resultado foi um filme sem precedentes, uma história épica e em que o público acreditava que um homem pudia voar. Christopher Reeve, um desconhecido na altura, tornou-se uma super-estrela da noite para o dia. O filme foi um enorme êxito de bilheteira e é hoje um clássico.
Christopher Reeve no papel do mitíco Super-Homem
Dois anos depois, a sequela de Super-Homem estreia nos cinemas. O êxito não foi tão grande mas ainda assim estrondoso. O filme tem um novo realizador, devido a complicações entre Alexander Salkin (produtor) e Richard Donner (realizador). Os dois filmes estavam a ser filmados em simultâneo mas Donner desistiu, tendo já filmado grande parte do filme. Richard Fleischer tomou as rédeas, o filme ficou diferente e perdeu alguma qualidade (a versão de Richard Donner já está disponível na edição especial do segundo filme e é, realmente, superior). A DC, com estes êxitos, começa a preparar o seu outro herói para o cinema: Batman. Mas este só teria sorte no fim dos anos 80. A Marvel foi produzindo séries de animação mitícas, como Transformers e G.I. Joe. Uma vez ou oitra, tentava levar as suas personagens mais longe mas sem sucesso. Pode dizer-se que o maior êxito que a Marvel teve fora dos comics, nesta década, foi a produção destas séries e o filme de animação lançado para cinema das mesmas.
A DC, em 1983, lança o terceiro filme de Super-Homem. O filme não é um êxito tão grande e a critíca e fãs ficam extremamente descontentes. Em 1987, o quarto filme é lançado e é um enorme fracasso de bilheteira e considerado um dos piores filmes do ano.
No entanto, após uma longa e complicada história, Batman tem luz verde. Tim Burton (saído do êxito de Beetlejuice) é o realizador escolhido e consegue convencer os estúdios de que Michael Keaton seria o Batman perfeito. Os fãs ficam descontentes com a notícia, pensando que a personagem vai voltar aos seus tempos de comédia, como nos anos 60 (Keaton era um actor conhecido pelos seus papéis de comédia). No entanto, o projecto ganha mais força e confiança quando Jack Nicholson aceita fazer o papel de Joker. Junta-se Kim Basinger (a substituir Sean Young à última da hora) e tinhamos filme. Batman foi lançado em 1989 e tornou-se o filme do ano. A critíca dividiu-se (uns adoravam, outros odiavam) mas o filme tornou-se o mais rentável dentro do género e o mais rentável de sempre para a Warner. Uma sequela era inevitável.
A Marvel, convencida que conseguiria tal feito, segue as pegadas da DC. Produz , juntamente com a New World Entertainment (produtora de Roger Corman) The Punisher, com Dolph Lundgren e Louis Gosset Jr. e, para além de ser devastado pela critíca, é ainda um fracasso tremendo (acaba por ser um filme tão mau que é divertido de ver). Mas a Marvel não desiste.
Albert Pyun, um mestre da acção de baixo orçamento, traz-nos Capitão América (1992), com a chancela de Roger Corman
Em 1992, a DC lança Batman Regressa, o segundo filme do Homem-Morcego. Tim Burton volta como realizador e traz Michael Keaton de volta. Ao seu lado estão Michelle Pfeiffer, Danny DeVitto e Christopher Walken. Burton consegue, uma vez mais, misturar a essência da personagem e do mundo de Batman com a sua essência, fortalecendo a imagem de cinema de autor (todas as marcas do seu cinema estão presentes: os cenários grandiosos, sombrios e góticos, o humor negro, personagens caricatas, etc.). Muitos foram afastados por tal aspecto sombrio do primeiro filme. No entanto, o êxito ainda foi enorme. E o filme, melhor que o primeiro.
Em 1994, a Marvel dá mais um tiro no seu próprio pé. Novamente com colaboração de Roger Corman, é produzido Quarteto Fantástico. Um filme destes necessitaria sempre de um orçamento algo elevado devido ao uso de efeitos especiais de ponta para criar os poderes das personagens principais. No entanto, o orçamento foi baixo, o realizador desconhecido e o elenco também. Um poster ainda foi colocado nos cinemas mas retirado de imediato. O filme acabaria por não ser lançado nos cinemas e houve muito poucas cópias em VHS. É hoje um filme raríssimo e Stan Lee prefere fingir que tal nunca aconteceu (no entanto, é mais divertido que as desastrosas grandes produções recentes do QF). Mas a Marvel encontrou êxito de outra forma: a animação para televisão.
O já lendário filme produzido por Roger Corman, Quarteto Fantástico, de 1994.
Em 1995, é lançado Batman Para Sempre. Tim Burton fica-se pela produção e Joel Schumacher é o realizador agora. O filme é totalmente diferente dos anteriores, recheado de acção, efeitos especiais, animação, cores, etc.. Por outras palavras, tratava-se de um circo. Val Kilmer é o novo Batman e Jim Carrey rouba o espectáculo como Riddler. O filme é um estrondoso êxito de bilheteira e abra as portas para um quarto. Em 1997, é lançado Batman e Robin. Burton está totalmente de fora do projecto, Kilmer não regressa devido a uma agenda cheia e o papel vai para o mais recente galã televisivo: George Clooney. O filme não foi o êxito esperado e é considerado uma das piores sequelas de sempre. Marcou o fim de Batman no cinema (ou talvez não). Schumacher volta como realizador da atrocidade e ainda diz, como o prazer (do esxcelente documentário dividido pelas 4 edições especiais dos filmes) que, antes de filmarem, dizia uma barbaridade do género: E lembrem-se... É apenas uma banda-desenhada!!! (não levar o que se está a fazer, seja de banda-desenhada ou não, traz resultados catastróficos e este Batman e Robin é prova viva disso).
A Marvel iria finalmente ter sorte no cinema, exactamente quando a DC tem novamente azar. Em 1998, é lançado Blade. Baseado numa personagem criada por Marv Wolfman, Blade é um caçador de vampiros. No entanto, ele próprio é meio vampiro. Blade era protagonizado por Wesley Snipes (que aqui teve o maior êxito da sua carreira) e tratava-se duma personagem secundária da Marvel. No entanto, o filme foi um êxito e pôs a Marvel a pensar: se um personagem secundária, pouco conhecida, consegue ser apelativa, podemos experimentar com algo que todos conhecem! E assim foi.
Blade regressou com duas sequelas. A primeira, realizada por Guillermo Del Toro, é um grande filme de acção e terror e uma sequela superior. O terceiro filme, Blade Trinity, é um filme mediano e muito inferior aos anteriores, traduzindo-se num fracasso no box-office.
A Marvel teve um êxito estrondoso em 2008 com Homem de Ferro, o primeiro filme feito de forma independente pelo novo estúdio da Marvel. O filme foi distribuído pela Paramount e foi um dos mais vistos do ano, rendendo mais de 300 milhões de doláres nos Estados Unidos e com excelentes critícas. O segundo filme vai estrear em 2010 e a Marvel já tem um leque de projectos: Capitão América em 2011, Thor e os Vingadores são os esperados.
Foi preciso um realizador aclamado e com um par de excelentes filmes na manga (Memento e Insomnia) estar interessado em trazer a personagem ao ecrã. Christopher Nolan junta-se a David Goyer (argumentista de Blade e realizador do terceiro) para escrever o argumento de Batman - O Início, uma reivenção de Batman para o cinema. Inspirado pela excelente mini-série de Frank Miller, Batman: Ano 1, em que a origem de Batman é refeita e colocada numa Gotham City recheada de corrupção e violência, Nolan vê que Batman é a personagem ideal para colocar nesse mundo e, ainda assim, contar a sua história desde o início, duma forma nunca antes vista. O público apercebeu-se que nada era igual à saga anterior e aderiu ao filme. As critícas foram muito boas. E foi preciso este êxito para a Warner dar luz verde a Bryan Singer para realizar o seu Super-Homem que acabaria uma sequela dos dois primeiros filmes da saga com Christopher Reeve. No entanto, apesar das boas critícas, a falta de acção e o facto do filme ser longo demais (com uma última parte desnecessária e mal conseguida) fez com que o filme não fosse o êxito esperado. No entanto, uma sequela (ou reinvenção) é aguardada.
Num ano em que Homem de Ferro e O Caveleiro das Trevas foram grandes êxitos a todos os niveís e revelaram ser filmes sérios e adultos, as coisas não acabaram bem. A Marvel lançou o seu último trunfo de 2008, Punisher: War Zone, e, para além de ter as piores critícas dos últimos anos, tem ainda o seu maior fracasso de bilheteira (nem deverá chegar aos 10 milhões de doláres). No entanto, há quem diga que é um excelente e violento entretimento e um bom regresso ao cinema de acção oitentista. Depois, estreou The Spirit, escrito e realizado por Frank Miller, inspirado na banda-desenhada de Will Eisner. O filme é considerado um dos piores do ano e tem sido um rotundo fracasso.
Agora, é uma questão de aguardar e ver o que o futuro reserva para os super-heróis no cinema.
Aqui não falei de todos os que foram adaptados, apenas dos casos mais notáveis. Qualquer sugestão, emenda, opinião (etc.) podem fazê-lo no sitío do costume.
5 comentários:
Excelente retrospectiva dos super-herois. Se bem que comece a ficar farto de tanto mau filme. Felizmente lá vai havendo uns "Batman" para alegrar um pouco a coisa. De resto já nem vejo. Em 2008 vi mesmo só "Dark Knight".
Mas se falarmos apenas nos comic, o meu favorito é Superman.
Abraço
Posso muito bem dizer que foi dos artigos mais interessantes que li neste blog. Muitos Parabéns! Fazes uma excelente retrospectiva do universo dos super heróis no cinema.
Abraço.
João,
é verdade que há muito mau filme dentro deste género. No entanto, a forma que eu encontro de conseguir ver estes filmes (porque acabo sempre por vê-los) é mesmo a velha forma 'é tão mau que pode ser algo divertido'. Mas é bom saber que, de vez em quando, surge um Cavaleior Das Trevas para nos recordar que excelentes filmes podem surgir. Mas em 2008, Homem de Ferro também foi uma excelente adição ao género. Aconselho a ver (mas atenção, não se compara ao Batman).
Em termos de comics, os meus favoritos acabam por ser o Homem Aranha e o Batman.
Abraço.
Fernando,
ainda bem que gostaste do artigo (tal como o João). Apenas agora me lembrei que esqueci-me de incuir o Spawn na retrospectiva (apesar de ser um péssimo filme).
Este é o primeiro de muitos artigos do género que planeio fazer de vez em quando.
Obrigado aos dois pelo feedback positivo. Espero serem os primeiros de muitos.
Abraço.
Pois o "Spawn" foi daqueles de que tao mau ate diverte.
E referias em relação ao "Punisher" com Thomas jane que havia alguns que gostavam, apesar de ter sido massacrado pela critica. Eu sou dos que gosta (mas atenção: eu tambem gostei de Battlefield Earth). É acção pura e dura de vingança. Gosto disso.
Abraço
Um post simplesmente divinal =)
Keep the good work ;)
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